Caixa de velocidades Mini - A reparação.

Boa tarde.
Como vos tinha dito, apareceu por aqui uma caixa de Mini para reparar. Não seria grande noticia se não fosse por um detalhe: esta caixa não é mais nem menos do que a caixa de um Mini Marcos. É verdade! O Sr. Carlos Maciel tem um "Marcos", e antes de fechar o motor, a caixa tinha que ser revista. Como na realidade é 100% igual á do Mini, aproveitei para vos mostrar como é a sua reparação. Não vou mostar como se tiram as tampas, porque basicamente todas são para tirar e basta desapertar tudo o que as segura no lugar...Pintada de "vermelho racing", esta caixa é um bom exemplo do que pode ser uma catástrofe para o motor a curto prazo. Á primeira vista parecia estar tudo em bom estado...
...e começou a desmontagem. Abrem-se os freios de metal......sacam-se as falanges de transmissão......com a peça maravilha. Por ser fácil de fazer e dar um jeitão incrivel, aconselho-vos a fazer uma igual. Quando estamos debaixo deles e com o motor no sitio são mesmo preciosas...Falanges fora, desapertam-se os parafusos das tampas laterais e da tampa do diferencial......e depois de tirar o diferencial do sitio, surge isto. O selector das mudanças. Neste caso em ponto morto......e através do veio, vamos rodá-lo para a esquerda......até sair da posição na totalidade. Reparem que apenas a peça mais saliente é que move os veios das forquilhas (baladeros), porque a peça mais larga é simplesmente para impedir que seja possivel mover mais do que um veio em simultaneo. Neste caso, é precisamente isso que queremos......para poder encostar uma chave de fendas no sincronizador da 1ª e 2ª......fazendo-o deslizar para engrenar a 1ª......e logo de seguida......repetir com o carreto da marcha-atrás. Neste momento temos os dois carretos mais robustos engrenados ao mesmo tempo, o que significa que temos os veios trancados da melhor maneira possivel. Qualquer outra forma de segurar os veios pode originar estragos irreversiveis na caixa. E porque é que queremos trancar os veios??? Para que se possa encaixar uma chave de caixa alta nº 38......na porca do pinhão de ataque do diferencial......e desapertar a porca sem estragar nada. Uma tábua para não riscar as faces de união ao motor, e encostar uma embaladeira em cima do cárter continua a ser a melhor maneira de evitar que a caixa se mexa, com a vantagem de ser preciso apenas uma pessoa para excutar a manobra. É o que faz trabalhar sozinho, aprendemos a desenrascar...Depois do estalo, a porca sai com facilidade......e o pinhão vem logo atrás......deixando o rolamento do veio secundário á nossa mercê......para desmontar a falange que o segura. Tiramos o freio do veio primário e da marcha-atrás......puxamos o tubo do óleo para fora......e num instante......ficamos com o veio primário na mão. Claro que......não devemos esquecer as anilhas que estão em ambos os lados. Por esta altura estamos prontos para o veio secundário......mas antes ainda, temos que desmontar o veio de entrada. basta sacar um freio......que pode dar algum trabalho a sair......e dar um "empurrão" ao rolamento......que ele sai facilmente.E começam as surpresas......ou nem por isso. Estes rolamentos são a principal causa de mortalidade nas caixas Mini, porque quando estão neste estado, tendem a saltar do lugar, e além de ficar com os veio soltos e com os carretos desalinhados, a caixa ainda tem que os "mastigar" entre os carretos que giram a alta rotação. É verdade..., esta safou-se por um triz!Bom..., com mais jeito ou menos jeito, retira-se o rolamento grande......e o nosso veio fica suficientemente livre para subir pela parede do cárter......e ver a luz do sol pela primeira vez em muitos anos. E agora que se vê o fundo......é a altura certa para tirar o pré-filtro do óleo.Como temos que desmontar a anilha sincronizadora da 3ª......pomos o veio dentro de um saco de plástico......podemos calmamente fazer saltar as molas do sincronizador, sem ter que passar as próximas 2 ou 3 horas á procura das minúsculas molas e esferas que estão no interior da luva. Se não usarem um saco, pelo menos usem uns óculos, porque apesar de pequenas, estas esferas parecem tiros a sair, e com a vista não se brinca...Após desmontar o casquilho que segura o sincronizador, com a ajuda de uma prensa ou um martelo de teflon (se estiver leve...), podemos montar o sincronizador na luva e ir tomando nota mental ou fotográfica da posição de todas as peças, porque na hora de repor tudo no devido lugar, vão surgir duvidas que só desaparecem depois da quarta ou quinta caixa...Arquivam-se as "provas"......e tira-se a foto para a posterioridade. Agora é a vez da lavagem e da limpeza, enquanto o material não chega... Para os mais perfeccionistas, é a altura ideal de prepararem tudo com extremo cuidado, e ir aproveitando para contar os dentes dos carretos, tomando notas, etc, etc...
Não foi o post mais perfeito acerca do assunto, mas pelo menos deve servir de "rampa de lançamento" para quem se quiser aventurar no admirável mundo das engrenagens e das velocidades, sobretudo se tiver uma caixa suplente que possa usar no caso de não dar conta do recado...
Na montagem irei focar os aspectos realmente importantes acerca da caixa do Mini, pois é na montagem que tudo pode falhar. Na verdade, desmontar é a meu ver, a parte engraçada da reparação, pois é na verificação e montagem de todos os componentes, que esta espectacular obra de engenharia mecânica vai ou não resultar.
A "Revista técnica automóvel", o manual da "Hynes", a biblia do David Vizard, etc, são edições muito uteis para este trabalho, e foram a minha principal ajuda no inicio, mas acreditem que só mesmo a práctica consegue fazer desaparecer aquela sensação de dúvida se isto alguma vez volta a trabalhar, pois nem tudo vem nos livros..., ou nos post's...
Um abraço: RT